Foto: Aula de vôlei com os alunos do Projeto Esporte e Educação: Essa é a Nossa Praia |
Isso, que até há pouco tempo parecia ficção ou fantasia de algum psicanalista visionário, tornou-se realidade comprovada nos estudos e pesquisas com o método da ultra-sonografia. Os fetos reagem, mudam de posição, acalmam-se, agitam-se, sugam o dedo, entre outras coisas, com a luz, o som, vozes, música, etc.
Esse Ego está sempre em contato com o corpo e suas necessidades. O exercício físico que contribui para o desenvolvimento corporal também o faz para o Ego, isto é, crescimento físico e mental.
A partir de certa idade, digamos, entre três e cinco anos, forma-se outra estrutura mental, que chamamos de Superego. Sempre que falamos de Superego pensamos em censura, castigo, culpa, etc. Todavia, não podemos esquecer de que o Superego é depositário também dos valores morais e éticos, da ordem, da disciplina, responsabilidade, compromisso e ideais. É todo um sistema de valores adquirido através dos relacionamentos com os pais, família e sociedade.
Assim, vemos que, se a atividade física tem papel importante no desenvolvimento do Ego, o esporte, enquanto atividade competitiva, também vai interferir profundamente na estruturação do Superego.
Isso torna-se mais evidente na adolescência, uma época de crise. Nessa fase há, pelo lado dos instintos, aumento dos impulsos agressivos e amorosos (sexuais), da força e da capacidade de exercer estes impulsos. As mudanças são súbitas no corpo e na mente, obrigando o Ego a empregar defesas para manter o equilíbrio intrapsíquico.
A nova consciência do corpo determina novos sentimentos, novos pensamentos, exigindo nova integração da personalidade. Nesse momento os elementos que entram na dinâmica intrapsíquica são, por um lado, as forças e exigências dos impulsos agressivos e sexuais (Id), a parte mediadora e executiva da personalidade (Ego) e, por último, o sistema de valores ou consciência, os conceitos de certo e errado, os imperativos morais e ideais (Superego). Do interjogo dessas três instâncias dependerá o equilíbrio intrapsíquico.
Quando essa interação é harmoniosa e equilibrada, não é percebida. São as falhas que mostram o processo, exatamente como acontece com os batimentos cardíacos ou a respiração. Essa crise adquire muitas vezes a forma de verdadeira guerra (adolescência patológica) se o Ego não pode contar com a ajuda do Superego para manter o equilíbrio intrapsíquico. São distúrbios de conduta ou, nos casos mais graves, doença psicossomática, delinqüência, drogadição ou doença mental.
A estruturação de um Superego nem tão permissivo nem tão rígido ajuda o Ego a lidar com os impulsos agressivos e os amorosos de forma construtiva, segundo padrões aceitos pela sociedade, sem gerar culpa. O Ego fica livre para a percepção da realidade externa, favorecendo os processos de aprendizagem e socialização. Por outro lado, a atividade esportiva proporciona o agrupamento sadio, facilitando novas identificações que possibilitam ao adolescente crescimento e reestruturações mentais.
O aumento da independência dos pais produz um vazio interno. O apego a um ideal ajuda a preenchê-lo. O idealismo é a característica dessa fase e dos jovens de modo geral. O ideal não é contaminado pelos impulsos agressivos ou sexuais, não conduzindo à prática de atos proibidos, nem à culpa.
Por todas essas razões, a atividade esportiva na adolescência é de vital importância. A disciplina, a responsabilidade, os ideais e os valores éticos que são a essência do esporte, associados às atividades em grupo tão necessárias e procuradas pelo adolescente, fazem do esporte, mais do que atividade física ou de lazer, uma conduta terapêutica.
Na nova estruturação da personalidade, a criação de um Ego com defesas variadas e adequadas e de um Superego com valores éticos, morais, responsável mas tolerante, é de capital importância para a saúde mental.
Considerando que o acesso ao mundo instintivo através do preenchimento de necessidades básicas, tais como saúde, alimentação, família, escola, etc., não cobre a extensão nem a variedade de necessidades instintivas individuais, o caminho é fornecer ao próprio indivíduo os meios para que possa gerir esse mundo instintivo de forma saudável, prazerosa e construtiva.
O uso do Esporte como meio de crescimento do Ego e de estruturação sadia do Superego preenche tais fins. Achamos, portanto, que as práticas esportivas, sejam de forma lúdica na infância, sejam de forma competitiva na adolescência, são fatores para o desenvolvimento e para a saúde mental.
Consideramos que a estabilidade emocional desempenha um papel fundamental para que as pressões familiares, econômicas e sociais possam ser suportadas.
Este enfoque sobre a atividade esportiva permite ação profilática para evitar as evasões escolares, o uso das drogas e a violência. Isso inclui o entendimento dessas questões na preparação dos profissionais que lidam com tais atividades.
Dra. Eronides Borges da Fonseca
Fonte: Scielo
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